sábado, 18 de maio de 2013

Engenharia do Conhecimento - CommonKADS

O CommonKADS é uma metodologia de engenharia e gestão do conhecimento orientada a modelos. Ao todo possui seis (6) modelos que especificam todos os aspectos ligados a um sistema de conhecimento (ou sistema baseado em conhecimento). Os seis modelos foram adaptados de Schreiber et al. (2002) na BARRA VERDE ACIMA. Eles são provenientes de três aspectos da metodologia, que inclui:
  • Contexto - Modelo da organização, Modelo da tarefa, Modelo do Agente;
  • Conceito - Modelo de comunicação e Modelo de conhecimento;
  • Artefato - Projeto de sistema (baseado) de conhecimento, conforme ilustra a figura abaixo
                                          Figura 1 - Visão geral do CommonKADS.
Fonte: Adaptado de Schreiber et al. (2002).

A metodologia inclui também suporte a atividades de modelagem de conhecimento, gestão de projetos e reusabilidade. O Objetivo dos modelos é responder a questões como:
Contexto (aspectos de negócio)
Por que um sistema de conhecimento é uma solução em potencial? 
Quais são os problemas a serem resolvidos?
Quais são os benefícios, custos e impactos que a organização terá ao implantar tal sistema?
Quais outras possíveis soluções podem imergir deste ambiente?
Existem outras possibilidades mais viáveis, em termos de custo e tempo?
Conceito (aspectos conceituais)
Qual a natureza do conhecimento envolvido na solução?
Qual a estrutura do conhecimento e da comunicação?
Quais os conceitos chave do sistema?
Artefato (aspectos técnicos)
Como o conhecimento pode implementado em sistema computacional?
Qual a infraestrutura tecnológica necessária para o sistema? 



terça-feira, 2 de abril de 2013

Construção da visão de mundo

Aula de Teoria Geral de Sistemas - 02/03/2013.

Como se constrói uma visão de mundo?

Carlos Chagas foi o primeiro a compreender todo o ciclo de uma doença.

Porque soluçamos? O soluço é um bug do sistema humano.

Mundo 1 - Físico

Mundo 2 - Abstrato

Mundo 3 - Ambos.

A visão do mundo é construída desde o nascimento. Nosso mundo jamais será completo. (Alegoria da caverna de Platão)


Paradigma é uma visão de mundo compartilhada por um grupo de pessoas.

O conhecimento é sempre incompleto. A ciência pode ser construída a partir de uma teoria, porém os dados empíricos devem servir para consolidar a teoria.

O que a ciência pode fazer? Revisitar teorias com novas visões de mundo.
O que a ciência prega é que não existe assunto tabu, assunto que não possa ser discutidos.

Video da BBC, Instinto - o lado selvagem do comportamento humano (2005)

- Sobreviveência - Caso Wladimir Herzog


Episódio 1 – Sobrevivência - Quais são as estratégias de que dispomos, desde o nascimento, para garantir a mais básica e fundamental de todas as necessidades: sobreviver.
***
Episódio 2 – Desejo - Por que certas pessoas são mais atraentes do que outras? O que determina por quem vamos nos apaixonar? Tudo sobre os instintos que promovem a perpetuação da nossa espécie.
***
Episódio 3 – Competição - Por que vencer é tão bom e perder, tão desagradável? Entenda porque o instinto de competição é vital para a nossa sobrevivência.
***
Episódio 4 – Proteção - Até onde você iria para proteger um filho? Saiba o que leva pessoas comuns a agirem como heróis para salvar outro ser humano.








terça-feira, 3 de maio de 2011

Discussão sobre Cognição Situada


COGNIÇÃO SITUADA
Discussion Paper
Viviane Schneider - Mestrado
Introdução
As teorias da Cognição Situada em oposição a ortodoxa psicologia cognitivista do século XX transfere o foco do aprendizado individual para o aprendizado ocorrido na relação com o meio. Deslizando entre as teorias cognitivistas e princípios sócio interacionistas, a cognição situada surge para apresentar um olhar que coloca a aprendizagem e formação do conhecimento como atividades dinâmicas, que estão em constante reavaliações para possibilitar ao indivíduo uma vivência adaptativa.
Neste paper buscou-se discorrer sobre o conceito de cognição situada através de um breve histórico de seu surgimento, suas principais abordagens e contribuições para as ciências da cognição. Para tanto utilizou-se os autores Soloman (?[i]), Vygotsky (1991), Grison (2004), Vanzin (2005) e Iacono (2005).
Desenvolvimento
Pioneiro em pesquisas de cognição humana como fenômeno de interação social, L. S. Vygotsky salientou as raízes sociais da linguagem e do pensamento. De acordo com o Materialismo Histórico de K. Marx, as alterações históricas da sociedade e de seu meio material geram mudanças na natureza humana. Ao discorrer sobre a estrutura da ação comportamental Vygotsky (1991) trouxe o termo “mediação” para explicar comportamentos onde o indivíduo muda ativamente o contexto externo que o estimula, e que recursivamente gera nele um processo de resposta ao mesmo.
Com o intuito de discorrer sobre o processo cognitivo humano como algo além dos fenômenos psicológicos, surge em meados de 1987-88 o termo cognição situada, apresentado pela pesquisadora e antropóloga Jean Lave e Suchman. Nestes estudos as perspectivas de aprendizado são deslocadas da psicologia tradicional, que tinha o foco cognitivo mecânico e individual, para a abordagem da psicologia soviética, onde há a ênfase da aprendizagem através do conhecimento que emerge do contexto social (IACONO, 2005). Assim esta teoria teria sido nutrida por raízes das ciências sociais, cognitivas e antropológicas, sobretudo contrapondo a psicologia ortodoxa.
Desta teoria surgem as noções de formação de conhecimento e aprendizagem proveniente da interação do indivíduo com o ambiente, em um processo multi influenciador, onde o meio é fator expressivo nas ações e nos conhecimentos humanos. Para que seja possível compreender o que o termo cognição situada abrange, faz-se necessário a descrição de seu conceito, conforme se observa abaixo:
· É um processo de aquisição de conhecimento e habilidades, que está em constante modificação no indivíduo, ao colocar este em uma estreita relação com a geografia de seu contexto social, ecológico e cultural (SOLOMAN; VANZIN, 2005; IACONO, 2005).
· É um “sistema cognitivo sócio-cultural onde o conhecimento é criado pela ação e para ação. A idéia central é que os processos cognitivos são determinados pelo ambiente e pela ação do indivíduo ali inserido” (VANZIN 2005, p 43).
· Conjunto de processos interligados de tomada de decisão, resolução de problemas, planejamento de ações e metas a serem alcançados, padrões internos de atitudes comportamentais geradas a partir de modelos mentais nascidos de experiências sócios ambientais (GRISON, 2004).
· Processo que explora o significado epistemológico das rotas instanciadas do indivíduo, específicas para realização cognitiva, com vistas a gerar uma ação frente a um determinado contexto. A aprendizagem, memória, planejamento, ação e significado lingüístico são incorporados ao meio para se transformarem em ferramentas de ação, onde possam ser utilizados nos arranjos sociais em que o indivíduo está inserido (SOLOMAN).
              Evidentemente toda cognição situada ocorre pelo mecanismo de interação com a ação situada. Seguindo a linha antropológica de raciocínio, sugerida por Soloman, Vygotsky (1991), Grison (2004), Vanzin (2005) e Iacono (2005), o desenvolvimento das ações se relaciona com o ambiente físico e social, ou seja, a ação deve ser referenciada por valores do ambiente, em uma um determinado tempo, tendo em vista o contexto histórico e cultura ao qual o individuo está inserido. Assim a ação é situada, pois surge da relação de conjunturas específicas de conhecimentos práticos, adaptáveis individuais e dinâmicos, modificados no momento em que são utilizados ou recordados.
Neste contexto, a aprendizagem vista sob a ótica da teoria da cognição situada possui características evidentemente mais relacionadas com ambiente. A partir de estudos de um contexto organizacional, Vanzin (2005) faz um comparativo entre as aprendizagens tratadas pela ciência cognitiva tradicional e ciência cognitiva situada, conforme a tabela 1.

Tabela 1: Comparação entre aprendizagem situada e tradicional
Fonte: Retirado na íntegra de Vanzin (2005, p 33).
A partir da tabela 1, é possível vislumbrar alguns benefícios na utilização da teoria da cognição situada, aplicada em um contexto organizacional de aprendizagem. Pode se observar algumas vantagens da aprendizagem situada onde é possível a elaboração de formas de aprendizado flexíveis, e possivelmente mais efetivas por promoverem uma abrangência maior dos mecanismos sensores do agente humano.
Assim a execução da Cognição Situada tende a representar novos recursos de integração, como por exemplo, as comunidades de prática, facilitação de aquisição de conhecimentos nas escolas, bem com em recintos profissionais, ao possibilitar novas concepções de modelos de colaboração que poderão ser facilitados pelas inovações tecnológicas (IACONO, 2005).
Nesta perspectiva a Cognição Situada poderá indicar um caminho para elaboração de soluções de aprendizagem com um efetivo aumento da qualidade de aquisição do conhecimento, ao permitir uma experiência mais abrangente e significativa, por ser incorporada física e emocionalmente pelo indivíduo.
Conclusão
Diversos estudiosos da Cognição Situada concordam que há forte dependência da cognição com os sistemas sociais, seus contextos históricos e culturais na formação de conhecimento e habilidade humana. Para estes pesquisadores as atividades e pensamentos humanos estão em constante adaptação com o meio, ou seja, são contextualmente situados. Para a cognição situada, humanos percebem e conhecem de acordo como concebem suas atividades, e o meio geográfico em que estão inseridos. A Cognição Situada abrange ainda processos de tomada de decisão, aprendizados e escolhas de comportamentos.
Documentação
IACONO, S. P. A cognição situada na análise das atividades do professor do ensino superior / Sociarai Peruzo Iacono; orientadora Ana Regina de Aguiar Dutra. – Florianópolis, 2005. 129f. Dissertação – (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2005.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
GRISON, B. Des Sciences Sociales à l´Anthropologie Cognitive. Les généalogies de la Cognition Située. @ctivités, 1 (2), 26-34, 2004. http://www.activites.org/v1n2/grison.pdf
VANZIN, Tarcisio. TEHCo - modelo de ambientes hipermídia com tratamento de erros, apoiando na teoria da cognicão situada. Florianópolis, 2005. 188 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, 2005.


[i] Retirado do texto fornecido na Web 2.0 da UFSC.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Discussion Paper sobre Metatriangulação e Complexidade


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO
DISCIPLINA: MÉTODOS DE PESQUISA EM EGC (EGC5006)

METATRIANGULAÇÃO E COMPLEXIDADE
Discussion Paper
Viviane Schneider - Mestrado
Introdução
            Neste paper será apresentada uma discussão referente a relação entre a construção multi-paradigmática com o uso da Metatriangulação para capturar fenômenos que exigem uma visão inter-relacionada na pesquisa, próprios da abordagem da Complexidade. A partir das análises de diversos textos recomendados pelo EGC, foi realizada uma sucinta síntese, que busca relacionar estes temas, tendo em vista a complementaridade de ambos, devidos as suas características peculiarmente abrangentes.
Desenvolvimento
Derivada do latim Complexus que significa aquilo que é “tecido” junto, a palavra complexidade nos remete a uma noção de fenômenos constituídos de uma desordem ordenadamente organizada. Esta organização possui um núcleo que mantém o fenômeno/sistema/arranjo/organismo unido as diversas partes singulares que a compõe, e onde a separação das partes não remete necessariamente a um componente mais simples. O desmembramento do complexo pode conduzir a um elemento “espelhado” do todo (Holograma, imagem fractal[1]). O complexo, em Morin (1996; 1998[2]), é um turbilhão de forças que interagem e por vezes se opõem para formar uma unidade procriadora. A complexidade por sua vez, é a ciência filosófica que busca capturar este objeto obscuro e multifacetado, que é a racionalização do conhecimento do real.
Neste contexto a complexidade como abordagem científica nos conduz para novas paisagens do mundo, quando “fotografa” o real em diversas perspectivas, sem reduzir suas partes para compreendê-lo. Seguindo esta linha, surge a metatriangulação como uma técnica multi-paradigmática, que visa criar ciência através de um olhar onde o todo não é separado para ser entendido, mas antes tem suas partes diferenciadas e relacionadas em um conjunto coeso com relativo equilíbrio.
A Metatriangulação, ao apresentar diversas traduções de um objeto de pesquisa trás a tona uma crítica do confronto das polaridades e complementaridades das teorias utilizadas, que por sua vez são permeadas por suas influências paradigmáticas. A partir desta discussão pode emergir uma teoria que visa conter uma substância nova, oriunda deste meio propositalmente diversificado para criar fecundidade. Assim ocorre uma articulação, com vistas a promover o debate consciente, dos diversos vieses que possam sustentar teorias selecionadas para os estudos empreendidos. Enquanto a construção de teorias a partir de um único paradigma nasce de um procedimento para proporcionar sentido através dos teóricos utilizados, a metatriangulação busca um processo provocativo de investigação para gerar ciência (CALDAS, 2007[3], p.56-58).
Assim enquanto a complexidade integra o observador ao objeto de pesquisa, o que nos possibilita compreender o mundo através de lentes conscientes e multidisciplinares nos proporcionando uma visão mais ampla do conhecimento racionalizado, a metatriangulação busca sobrepor e entrelaçar interpretações divergentes deste conhecimento, em um novo entendimento, onde o objetivo não é encontrar “a” verdade, mas encontrar visões de mundo diversas e parciais que nos permitem deduzir algo (GIOIA; PITRE, 1990).
Para Morin (1998[4]), “atingir a complexidade significa atingir a binocularidade mental e abandonar o pensamento caolho”. A complexidade nos permite elaborar uma representação do real a partir de várias perspectivas, que nos conduz a um enriquecimento perceptivo. A complexidade possui forte relação com a filosofia que observa o mundo com um todo que contém partes que interagem e se movimentam em uma regra desregrada.
Neste contexto podemos supor alguns benefícios no uso de técnicas de metatriangulação, para abarcar fenômenos complexos, dentre os quais elenco abaixo:
·         Promoção de uma auto reflexão do próprio sistema epistemológico de construção literária, o que pode promover uma consciência das influências metodológicas que estruturam a pesquisa;
·         Uma representação menos empobrecida da epistemologia do objeto de estudo, proveniente das divergências teóricas, e que podem nos conduzir a elaboração de um “mapa científico” mais detalhado, devido ao esclarecimento de caminhos até então obscuros ou incompletos;
·         Explicitação de uma realidade menos simplória, o que pode acarretar no enriquecimento do “produto” científico;
·         Percepção de diversas óticas da realidade construídas em suas parcialidades paradigmáticas.
·         Facilitação do alcance do conhecimento e sua utilização através da crítica e inter relação de aspectos alternativos e divergentes (LEWIS E GRIMES, 2005[5]).
·         Apresentação de uma alternativa de exploração de fenômenos complexos, que consiga minimizar preferências ou provincianismo por parte do pesquisador (LEWIS E GRIMES, 2005[6]).
Ao agrupar diversos paradigmas pode ocorrer uma apresentação dualista da teoria proposta, o que por si é algo que a metatriangulação busca superar. Para evitar que isso aconteça deve-se utilizar alguns cuidados no desenrolar da pesquisa. Deve-se também ter em mente que a metatriangulação não é, segundo Lewis e Grimes (2005), um substituto para formalização de teorias de paradigma único, mas uma técnica para aprofundar a pesquisa e atingir a complexidade de um fenômeno.
Entretanto alguns cuidados devem ser tomados para que a metatriangulação alcance o que se propõe. A pesquisa feita através da metatriangulação deverá ocorrer com uma superação de discrepâncias teóricas, a partir do entendimento de suas disparidades e do papel do pesquisador em relação ao estudo empreendido. Isto significa dizer que a metatriangulação é mais do que confrontar teorias, verificando suas diferenças e complementaridades. A metatriangualção é uma compreensão alargada da realidade, através de uma revisão teórica diversificada referente ao objeto de pesquisa, onde adquirimos “a capacidade de saber o que estamos fazendo, porque estamos fazendo, e o que poderíamos fazer de maneira diferente” (LEWIS E GRIMES, 2005[7]).
Portanto o trabalho realizado com a utilização da metatriangulação deve ser de natureza profunda, horizontal e verticalmente, sendo norteada por diretrizes da crítica e compreensão de teorias, bem como de suas bases fundamentadoras, com o intuito de fazer emergir um novo entendimento do universo complexo de pesquisa.
Assim a metatriangulação, se utilizada com a sensibilidade adequada por parte do pesquisador, pode produzir ciência complexa a partir da eliminação de premissas apontadas pelas evidências como falsas, o que nos permite a visualização de uma realidade mais precisa, tanto quanto isso seja possível. A metatriangulação pode ser considerada uma tentativa de purificar a pesquisa científica, pois “nosso mundo faz parte de nossa visão de mundo, a qual faz parte do mundo” (MORIN, 1998, p.59 e 223[8]). Com isso o conhecimento científico pode deixar de ser contaminado por nossos valores e crenças, para ser construído dentro de um movimento polarizante.
Diante do supracitado surge a pergunta: quais as possíveis abordagens para “capturar” e “traduzir” pesquisas científicas complexas? Conforme Leite (2004. p 76[9]), diversas podem ser as abordagens que podem ser tratadas pelas ciências da complexidade, dentre as quais se destaca:
·         Abordagem de complexidade organizada que possui características de não-linearidade, média quantidade de componentes significativos; Relacionamentos e conectividade (interpretação de Weaver (1948));
·         Abordagem com grande número de componentes, que possui características não-linearidade, relacionamentos e conectividade. (interpretação de Weinberg (1975));
·         Abordagem onde há surgimento de propriedades emergentes, com características de conexões dos componentes do sistema em proporções muito grandes em relação ao número de partes (interpretação de Kauffman (1993));
·         Abordagem de sistemas que produzem esquemas mutantes, onde não há captação de informação com regularidade. Há um comportamento nucelar do sistema, que norteia, onde há aprendizado e evolução (interpretação de Gell-Mann (1996)).
Com base no exposto a metatriangulação apresenta características que podem possibilitar a construção de pesquisas sob a ótica da complexidade. Em Lewis e Grimes (2005[10]) é destacado o processo de construção de teorias através da metatriangulação iniciando em três fases, sendo elas:
·         Fundamentos prévios: Definição do fenômeno de interesse onde a pergunta de pesquisa oferece foco, mas dá flexibilidade interpretativa, de acordo com os paradigmas. Os paradigmas são agrupados e zonas de transição entre as teorias são identificadas. A amostra é analisada através de várias lentes teóricas;
·         Análise de Dados: é elaborado um roteiro das análises dos dados, por meio de paradigmas múltiplos, com o intuito de elevar o pesquisador a uma consciência das diversas influencias que induzem a análise. Os teóricos então trazem os dados para dentro de sua compreensão para lhes infringir diferentes recortes. Neste ponto as representações são tensionadas na comparação de cada paradigma, trazendo a tona conflitos e polaridades que auxiliaram na emersão de uma nova concepção;
·         Construção teórica: é buscado meios criativos de justificar as polaridades, de forma a organizar uma questão ampla, sob óticas multi paradigmáticas. Assim o que ocorre é uma espécie de abdução do conteúdo de estudo, feita pelo teórico, que auxilia no reconhecimento da conexão dos insights, que divergem, mas permanecem independentes.
Com isso acontece algo parecido com uma “psicoterapia teórica”, no pesquisador de ciências complexas, que se torna ciente de suas influências e interesses pessoais.
Conclusão
A complexidade é uma abordagem que busca entender a pesquisa científica e os seus objetos de pesquisa como algo único formado por diversas elementos, onde a dissociação destes não remete ao seu entendimento. Como uma alternativa a esta abordagem de pesquisa surge a metatriangulação, uma técnica de construção de teorias que possui concomitantemente, difícil uso e abrangente alcance dos fenômenos de pesquisa.
O disposto nesta discussão buscou somente apresentar noções breves e minimamente introdutórias destes dois temas, com o intuito de somente nortear futuros aprofundamentos.

Documentações
LEITE, Maria Silene Alexandre. Proposta de uma modelagem de referência para representar sistemas complexos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2004. Orientador Antonio Cezar. Bornia. – Florianópolis, 2004.

LEWIS, M. W.; GRIMES, A.J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas. RAE, vol. 45, n.1. 2005.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998

MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins: Europa-America, [1996?]. 134p.


[1] Objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais se assemelha ao objeto original.
[2] MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins: Europa-America, [1996?]. 134p. & MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[3] Idem ao supracitado.
[4] MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[5] LEWIS, M. W.; GRIMES, A.J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas. RAE, vol. 45, n.1. 2005.
[6] Idem ao supracitado.
[7] Lewis e Grimes (Referência 3) interpretando Morgan (1983, p. 382).
[8] MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[9] LEITE, Maria Silene Alexandre. Proposta de uma modelagem de referência para representar sistemas complexos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2004. Orientador Antonio Cezar. Bornia. – Florianópolis, 2004.
[10] Idem a referência 3.

domingo, 24 de abril de 2011

Questões sobre Metatriangulação e complexidade


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO
DISCIPLINA: MÉTODOS DE PESQUISA EM EGC (EGC5006)
DISCENTE: VIVIANE SCHNEIDER
EXERCÍCIO- METATRIANGULAÇÃO
Por que a metatriangulação?
Para responder esta questão faz-se necessário uma revisão dos benefícios que esta abordagem pode nos fornecer.
Em Caldas (2007[1] p.56-58), a metatriangulação, ao apresentar diversas traduções de um objeto de pesquisa, trás a tona uma crítica do confronto das polaridades e complementaridades das teorias utilizadas, que por sua vez são permeadas por suas influências paradigmáticas. A partir desta discussão pode emergir uma teoria que visa conter uma substância nova, oriunda deste meio propositalmente diversificado para criar fecundidade. Assim ocorre uma articulação, com vistas a promover o debate consciente, dos diversos vieses que possam sustentar teorias selecionadas para os estudos empreendidos. O autor ainda nos coloca que, enquanto a construção de teorias a partir de um único paradigma nasce de um procedimento para proporcionar sentido através dos teóricos utilizados, a metatriangulação  busca  um processo provocativo de investigação para gerar ciência, ao nos propor uma questão fundamental: “ “É possível que você, algum dia, se livre do paradigma que, atualmente, o governa, de seu paradigma familiar?” “ (CALDAS, 2007[2], p.56-58).
A metatriangulação busca sobrepor e entrelaçar interpretações divergentes em um novo entendimento, onde o objetivo não é encontrar “a” verdade, mas encontrar visões de mundo diversas e parciais que nos permitem deduzir algo (GIOIA; PITRE, 1990).
Neste contexto podemos supor alguns benefícios no uso da metatriangulação, dentre os quais elenco abaixo:
·         Promoção de uma auto reflexão do próprio sistema epistemológico de construção literária, o que pode promover uma consciência das influências metodológicas que estruturam a pesquisa;
·         Uma representação menos empobrecida da epistemologia do objeto de estudo, proveniente das divergências teóricas, e que podem nos conduzir a elaboração de um “mapa científico” mais detalhado, devido ao esclarecimento de caminhos até então obscuros ou incompletos;
·         Explicitação de uma realidade menos simplória, o que pode acarretar no enriquecimento do “produto” científico;
·         Percepção de diversas óticas da realidade construídas em suas parcialidades paradigmáticas.
·         Facilitação do alcance do conhecimento e sua utilização através da crítica e inter relação de aspectos alternativos e divergentes (LEWIS E GRIMES, 2005[3]).
·         Apresentação de uma alternativa de exploração de fenômenos complexos, que consiga minimizar preferências ou provincianismo por parte do pesquisador (LEWIS E GRIMES, 2005[4]).
            Neste contexto a metatriangulação pode ser uma alternativa para explorar paradoxos organizacionais e análises complexas que nascem deste universo multi facetado.
Quais os cuidados para usar a metatriangulação?
Ao agrupar diversos paradigmas pode ocorrer uma apresentação dualista da teoria proposta, o que por si é algo que a metatriangulação busca superar. Para evitar que isso aconteça deve-se utilizar alguns cuidados no desenrolar da pesquisa. Deve-se também ter em mente que a metatriangulação não é, segundo Lewis e Grimes (2005), um substituto para formalização de teorias de paradigma único, mas uma técnica para aprofundar a pesquisa.
A pesquisa feita através da metatriangulação deverá ocorrer com uma superação de discrepâncias teóricas, a partir do entendimento de suas disparidades e do papel do pesquisador em relação ao estudo empreendido. Isto significa dizer que a metatriangulação é mais do que confrontar teorias, verificando suas diferenças e complementaridades. A metatriangualção é uma compreensão alargada da realidade, através de uma revisão teórica diversificada referente ao objeto de pesquisa, onde adquirimos “a capacidade de saber o que estamos fazendo, porque estamos fazendo, e o que poderíamos fazer de maneira diferente” (LEWIS E GRIMES, 2005[5]).
Portanto o trabalho realizado com a utilização da metatriangulação deve ser de natureza profunda, horizontal e verticalmente, sendo norteada por diretrizes da crítica e compreensão de teorias, bem como de suas bases fundamentadoras, com o intuito de fazer emergir um novo entendimento do universo de pesquisa.
Assim a metatriangulação, se utilizada com a sensibilidade adequada por parte do pesquisador, pode produzir ciência a partir da eliminação de premissas apontadas pelas evidências como falsas, o que nos permite a visualização de uma realidade mais precisa, tanto quanto isso seja possível. A metatriangulação pode ser considerada uma tentativa de purificar a pesquisa científica, pois “nosso mundo faz parte de nossa visão de mundo, a qual faz parte do mundo” (MORIN, 1998, p.59 e 223[6]). Com isso o conhecimento científico  pode deixar de ser contaminado por nossos valores e crenças, para ser construído dentro de um movimento polarizante.
Como usar a metatriangulação?
Para responder a esta questão foi utilizado principalmente como referência o texto de Lewis e Grimes (2005[7]) que destaca o processo de construção de teorias através da metatriangulação iniciando em três fases, sendo elas:
·         Fundamentos prévios: Definição do fenômeno de interesse onde a pergunta de pesquisa oferece foco, mas dá flexibilidade interpretativa, de acordo com os paradigmas. Os paradigmas são agrupados e zonas de transição entre as teorias são identificadas. A amostra é analisada através de várias lentes teóricas;
·         Análise de Dados: é elaborado um roteiro das análises dos dados, por meio de paradigmas múltiplos, com o intuito de elevar o pesquisador a uma consciência das diversas influencias que induzem a análise. Os teóricos então trazem os dados para dentro de sua compreensão para lhes infringir diferentes recortes. Neste ponto as representações são tensionadas na comparação de cada paradigma, trazendo a tona conflitos e polaridades que auxiliaram na emersão de uma nova concepção;
·         Construção teórica: é buscado meios criativos de justificar as polaridades, de forma a organizar uma questão ampla, sob óticas multi paradigmáticas. Assim o que ocorre é uma espécie de abdução do conteúdo de estudo, feita pelo teórico, que auxilia no reconhecimento da conexão dos insights, que divergem, mas permanecem independentes. Com isso acontece algo parecido com uma “psicoterapia teórica”, no pesquisador, que se torna ciente de suas influências e interesses pessoais.

EXERCÍCIO- COMPLEXIDADE
Qual o conceito de complexidade?
Derivada do latim Complexus que significa aquilo que é “tecido” junto, a palavra complexidade nos remete a uma noção de fenômenos constituídos de uma desordem ordenadamente organizada. Esta organização possui um núcleo que mantém o fenômeno/sistema/arranjo/organismo unido as diversas partes singulares que a compõe, e onde a separação das partes não remete necessariamente a um componente mais simples. O desmembramento do complexo pode conduzir a um elemento “espelhado” do todo (Holograma, imagem fractal[8]). O complexo, em Morin (1996; 1998[9]), é um turbilhão de forças que interagem e por vezes se opõem para formar uma unidade procriadora. A complexidade por sua vez, é a ciência filosófica que busca capturar este objeto obscuro e multifacetado, que é o conhecimento do real.


Por que a complexidade?
Para Morin (1998[10]), “atingir a complexidade significa atingir a binocularidade mental e abandonar o pensamento caolho”. A complexidade nos permite elaborar uma representação do real a partir de várias perspectivas, que nos conduz a um enriquecimento perceptivo. A complexidade possui forte relação com a filosofia que observa o mundo com um todo que contém partes que interagem e se movimentam em uma regra desregrada.
Neste contexto a complexidade integra o observador ao objeto de pesquisa, o que nos possibilita compreender o mundo através de lentes conscientes e multidisciplinares, proporcionando uma visão mais ampla do conhecimento racionalizado da realidade.
Quais as abordagens possíveis para tratar a complexidade?
Conforme Leite (2004. p 76[11]), diversas podem ser as abordagens que podem ser tratadas pelas ciências da complexidade, dentre as quais se destaca:
·         Abordagem de complexidade organizada que possui características de não-linearidade, média quantidade de componentes significativos; Relacionamentos e conectividade (interpretação de Weaver (1948));
·         Abordagem com grande número de componentes, que possui características não-linearidade, relacionamentos e conectividade. (interpretação de Weinberg (1975));
·         Abordagem onde há surgimento de propriedades emergentes, com características de conexões dos componentes do sistema em proporções muito grandes em relação ao número de partes (interpretação de Kauffman (1993));
·         Abordagem de sistemas que produzem esquemas mutantes, onde não há captação de informação com regularidade. Há um comportamento nucelar do sistema, que norteia, onde há aprendizado e evolução (interpretação de Gell-Mann (1996)).


[1] CALDAS, M.P.; BERTERO, C.O. (Ed.). Teoria das Organizações. São Paulo: Atlas, 2007. 360p. Acessado em 23/04/2011 no sítio: < http://66.228.120.252/resenhasdelivros/2151808> .
[2] Idem ao supracitado.
[3] LEWIS, M. W.; GRIMES, A.J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas. RAE, vol. 45, n.1. 2005.
[4] Idem ao supracitado.
[5] Lewis e Grimes (Referência 3) interpretando Morgan (1983, p. 382).
[6] MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[7] Idem a referência 3.
[8] Objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais se assemelha ao objeto original.
[9] MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins: Europa-America, [1996?]. 134p. & MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[10] MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[11] LEITE, Maria Silene Alexandre. Proposta de uma modelagem de referência para representar sistemas complexos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2004. Orientador Antonio Cezar. Bornia. – Florianópolis, 2004.