domingo, 17 de abril de 2011

Discussão sobre Abordagem Interpretativa na concepção das ciências


ABORDAGEM INTERPRETATIVA
Discussion Paper


Viviane Schneider - Mestrado

Introdução
O desejo (e necessidade?) de obter o conhecimento científico nos leva a uma eterna viagem em busca do que é real. Entretanto o mapa que utilizamos para nos conceder um norte rumo a este caminho deve ser desenhado pelos fatos e evidências encontradas. Para que este desenho leve o pesquisador ao local cientificamente correto, a melhor abordagem em relação ao seu objeto de estudo é sempre almejada. Mas qual a melhor abordagem para desenvolver um conhecimento científico que considere o contexto social como parte indissociável da pesquisa? Dificilmente poderemos responder ao certo esta questão, mas tão somente indicar trilhas que possam ser utilizadas.
Neste paper será apresentada uma das diversas abordagens que podem nos auxiliar neste passeio que leva ao vislumbre do mundo, sob uma ótica que clama pela imparcialidade científica consciente, que não desconsidera a produção do autor como parte do universo pesquisado, a abordagem interpretativa.

Desenvolvimento
                     Compreender as conjunturas que permeiam e influenciam a concepção das ciências é essencial para realização de estudos científicos válidos. Com este intuito o presente trabalho busca elucidar a compreensão da abordagem interpretativa, partindo do princípio de que a realidade traçada sob a ótica da abordagem interpretativista integra linguagem e ação. Esta abordagem compreende o sujeito como ativo neste processo, de forma mais ampla do que apenas a interpretação do conteúdo bibliográfico, quando apresenta dados com valor científico, nascidos do confronto internalizado pelo pesquisador, dos diversos autores revisados (ZWICK, 2010, p. 9; ACETI, 2009, p. 106).
            Neste contexto, é possível supor que a interpretação pode deturpar o caráter científico em uma pesquisa social, pois infelizmente não existem garantias de que o autor realmente perceba a plenitude do fato social, e assim consiga “traduzir sua linguagem antes de descobrir o que os atores percebem e saber o que eles percebem antes de ser capaz de traduzir” (HUGHES, 1980, p.27-29). Entretanto ao longo desta discussão, as teorias apontam que a abordagem interpretativa possui mais benefícios as ciências do que prejuízos, desde que utilizada com maestria, profundidade de fundamentação teórica, caráter avaliativo e dicotômico.
            Em Geertz (1997, p.17 e 86), o autor discute o caráter hermenêutico do compreender a compreensão, frente as tendências das ciências sociais, onde parece haver o fim das grandes teorias e rótulos escolásticos, resultado das mudanças do pensamento humano atual. Ele ilustra como a tradução interpretativa se efetiva na prática, quando propõe que sua perspectiva epistemológica recupera análises no constante oscilar entre a descrição de detalhes particulares e de estruturas globais, entre os pontos de vista individuais e as atitudes mais amplas, o que culmina por aproximar o pesquisador de formas de expressão sem que elas se tornem dele, ou percam o seu caráter de pertencente a “outros”. Cabe ressaltar que, sob a ótica do autor, a abordagem interpretativa possui implicações importantes sobre seus limites de pesquisa quando apresenta uma descrição dos fatos e acontecimentos a partir de uma perspectiva de englobar o significado da experiência e das ações sociais.
            Neste contexto, a abordagem interpretativa não seria insatisfatória como norte para ciência, ao sugerir que toda interpretação é válida (HUGHES, 1980)? Para Antunes (2008, p. 319-328), não, pois a história que formula a ciência de uma determinada ontologia não é somente a sua cota de fatos e acontecimentos, mas principalmente o significado de tais experiências para um grupo determinado. Quando se parte deste princípio tem-se o significado como tijolo que fundamenta o muro de qualquer evento que pode ser analisado em dois planos: enquanto ação individual e enquanto representação coletiva.
            Nessas considerações, ainda em Antunes (2008), a questão epistemológica da abordagem interpretativa leva a refletir: como algo fundamentalmente ligado a experiência individual pode ser objeto de estudo das ciências? Como é possível refletir o papel do pesquisador na produção de um conhecimento impalpável e situá-lo em uma quantificação da realidade social concreta e ao mesmo tempo abstrata?
Na medida em que se lida com fatos concretos mas de natureza subjetiva, conforme Aceti (2009, p. 99-107) é imprescindível que o pesquisador assuma o caráter interpretativo da pesquisa científica, tendo em vista, porém que este processo não fornece uma compreensão total de um fenômeno, nem acesso à verdade. Entretanto a objetividade científica não consiste em fingirmos uma neutralidade impossível (e indesejável), mas sim promover uma síntese que leva a uma hipótese, edificada a partir dos acontecimentos particulares de um determinado contexto social, suas relações estabelecidas e seu caráter individual que sublima e exclui interpretações pessoais, resultando na apresentação de um trabalho tão imparcial quanto possível (MARTUCCI, 2000, p. 99 – 115).
Assim esta abordagem nos conduz a considerar que o distanciamento do caráter humano histórico cultural nas pesquisas científicas, leva necessariamente, a uma simplificação deverás empobrecida (e alienada) dos objetos de estudo.  Própria de pesquisas qualitativas, a abordagem interpretativa pode permitir, através de seu caráter dicotômico e hermenêutico, uma maior aproximação da complexidade que permeia o real.
Considerando a discussão, fica evidente que, de certa forma, toda pesquisa possui, em maior ou menor grau, alguma subjetividade. Entretanto o progresso desta abordagem parece residir no fato de não haver uma perfeição de um consenso, mas antes um refinamento do processo científico, auto consciente de suas limitações. Ao colocar em pauta os horizontes humanos a serem considerados nos estudos, a abordagem interpretativa parece nos conduzir a um amadurecimento dos métodos científicos, ao propor uma objetividade do trabalho intelectual que não exige pra si verdades definitivas.

Conclusões
                     Os argumentos apresentados pelos diversos autores delineados nesta discussão levam a conclusões de que a abordagem interpretativa é uma evolução consciente das abordagens científicas, pois não ignoram o caráter interpretativo de todo conteúdo científico que envolve contextos históricos e culturais. As críticas quanto a esta abordagem parecem provir mais do desconhecimento quanto aos seus métodos de desenvolvimento do que a uma inconsistência científica. Os estudos mostram que a abordagem interpretativa pode ser uma alternativa válida a alienação dos produtos intelectuais que desconsideram o caráter humano dos objetos de dissecados, ao permitir a consciência das influências que moldam e caracterizam a pesquisa venham a tona.

Documentação
ACETI, Débora Cristina Siqueira; CESAR, Luís Paulo Dias. O pensamento Científico -  abordagem da pesquisa no estudo interpretativo. Artigo da Revista de Educação. VOl.XII, nº. 13, p. 99-107, 2009. Acessado em 17/04/2011 no sítio:
ANTUNES, Henrique Fernandes. O Estudo da Memória Através de uma Abordagem Interpretativa. Artigo da Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 8, n.3, p. 319-328, 2008.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Tradução de Vera Mello Joscelyne. Petrópolis, Vozes, 1997.
HUGHES, John. A filosofia da Pesquisa Social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980. Acessado em 17/04/2011, disponível no Moodle UFSC.
MARTUCCI, Elisabeth Márcia. Revisitando o trabalho de referência: uma contribuição teórica para a abordagem interpretativa de pesquisa. Perspect. cienc. inf., Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. 99 - 115, jan./jun. 2000.
ZWICK, Elisa; RIVERA, Alessandra S. P.; BRONZATTO, Luiz A.; BORGES, Ceyça L. P. Sentidos do Trabalho e do Meio Ambiente no Campo: uma Abordagem Interpretativa. XIII SEMEAD. set. 2010. Acessado em 17/04/2011 no sítio: < http://www.ead.fea.usp.br/semead/13semead/resultado/trabalhosPDF/400.pdf>

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