domingo, 24 de abril de 2011

Questões sobre Metatriangulação e complexidade


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO
DISCIPLINA: MÉTODOS DE PESQUISA EM EGC (EGC5006)
DISCENTE: VIVIANE SCHNEIDER
EXERCÍCIO- METATRIANGULAÇÃO
Por que a metatriangulação?
Para responder esta questão faz-se necessário uma revisão dos benefícios que esta abordagem pode nos fornecer.
Em Caldas (2007[1] p.56-58), a metatriangulação, ao apresentar diversas traduções de um objeto de pesquisa, trás a tona uma crítica do confronto das polaridades e complementaridades das teorias utilizadas, que por sua vez são permeadas por suas influências paradigmáticas. A partir desta discussão pode emergir uma teoria que visa conter uma substância nova, oriunda deste meio propositalmente diversificado para criar fecundidade. Assim ocorre uma articulação, com vistas a promover o debate consciente, dos diversos vieses que possam sustentar teorias selecionadas para os estudos empreendidos. O autor ainda nos coloca que, enquanto a construção de teorias a partir de um único paradigma nasce de um procedimento para proporcionar sentido através dos teóricos utilizados, a metatriangulação  busca  um processo provocativo de investigação para gerar ciência, ao nos propor uma questão fundamental: “ “É possível que você, algum dia, se livre do paradigma que, atualmente, o governa, de seu paradigma familiar?” “ (CALDAS, 2007[2], p.56-58).
A metatriangulação busca sobrepor e entrelaçar interpretações divergentes em um novo entendimento, onde o objetivo não é encontrar “a” verdade, mas encontrar visões de mundo diversas e parciais que nos permitem deduzir algo (GIOIA; PITRE, 1990).
Neste contexto podemos supor alguns benefícios no uso da metatriangulação, dentre os quais elenco abaixo:
·         Promoção de uma auto reflexão do próprio sistema epistemológico de construção literária, o que pode promover uma consciência das influências metodológicas que estruturam a pesquisa;
·         Uma representação menos empobrecida da epistemologia do objeto de estudo, proveniente das divergências teóricas, e que podem nos conduzir a elaboração de um “mapa científico” mais detalhado, devido ao esclarecimento de caminhos até então obscuros ou incompletos;
·         Explicitação de uma realidade menos simplória, o que pode acarretar no enriquecimento do “produto” científico;
·         Percepção de diversas óticas da realidade construídas em suas parcialidades paradigmáticas.
·         Facilitação do alcance do conhecimento e sua utilização através da crítica e inter relação de aspectos alternativos e divergentes (LEWIS E GRIMES, 2005[3]).
·         Apresentação de uma alternativa de exploração de fenômenos complexos, que consiga minimizar preferências ou provincianismo por parte do pesquisador (LEWIS E GRIMES, 2005[4]).
            Neste contexto a metatriangulação pode ser uma alternativa para explorar paradoxos organizacionais e análises complexas que nascem deste universo multi facetado.
Quais os cuidados para usar a metatriangulação?
Ao agrupar diversos paradigmas pode ocorrer uma apresentação dualista da teoria proposta, o que por si é algo que a metatriangulação busca superar. Para evitar que isso aconteça deve-se utilizar alguns cuidados no desenrolar da pesquisa. Deve-se também ter em mente que a metatriangulação não é, segundo Lewis e Grimes (2005), um substituto para formalização de teorias de paradigma único, mas uma técnica para aprofundar a pesquisa.
A pesquisa feita através da metatriangulação deverá ocorrer com uma superação de discrepâncias teóricas, a partir do entendimento de suas disparidades e do papel do pesquisador em relação ao estudo empreendido. Isto significa dizer que a metatriangulação é mais do que confrontar teorias, verificando suas diferenças e complementaridades. A metatriangualção é uma compreensão alargada da realidade, através de uma revisão teórica diversificada referente ao objeto de pesquisa, onde adquirimos “a capacidade de saber o que estamos fazendo, porque estamos fazendo, e o que poderíamos fazer de maneira diferente” (LEWIS E GRIMES, 2005[5]).
Portanto o trabalho realizado com a utilização da metatriangulação deve ser de natureza profunda, horizontal e verticalmente, sendo norteada por diretrizes da crítica e compreensão de teorias, bem como de suas bases fundamentadoras, com o intuito de fazer emergir um novo entendimento do universo de pesquisa.
Assim a metatriangulação, se utilizada com a sensibilidade adequada por parte do pesquisador, pode produzir ciência a partir da eliminação de premissas apontadas pelas evidências como falsas, o que nos permite a visualização de uma realidade mais precisa, tanto quanto isso seja possível. A metatriangulação pode ser considerada uma tentativa de purificar a pesquisa científica, pois “nosso mundo faz parte de nossa visão de mundo, a qual faz parte do mundo” (MORIN, 1998, p.59 e 223[6]). Com isso o conhecimento científico  pode deixar de ser contaminado por nossos valores e crenças, para ser construído dentro de um movimento polarizante.
Como usar a metatriangulação?
Para responder a esta questão foi utilizado principalmente como referência o texto de Lewis e Grimes (2005[7]) que destaca o processo de construção de teorias através da metatriangulação iniciando em três fases, sendo elas:
·         Fundamentos prévios: Definição do fenômeno de interesse onde a pergunta de pesquisa oferece foco, mas dá flexibilidade interpretativa, de acordo com os paradigmas. Os paradigmas são agrupados e zonas de transição entre as teorias são identificadas. A amostra é analisada através de várias lentes teóricas;
·         Análise de Dados: é elaborado um roteiro das análises dos dados, por meio de paradigmas múltiplos, com o intuito de elevar o pesquisador a uma consciência das diversas influencias que induzem a análise. Os teóricos então trazem os dados para dentro de sua compreensão para lhes infringir diferentes recortes. Neste ponto as representações são tensionadas na comparação de cada paradigma, trazendo a tona conflitos e polaridades que auxiliaram na emersão de uma nova concepção;
·         Construção teórica: é buscado meios criativos de justificar as polaridades, de forma a organizar uma questão ampla, sob óticas multi paradigmáticas. Assim o que ocorre é uma espécie de abdução do conteúdo de estudo, feita pelo teórico, que auxilia no reconhecimento da conexão dos insights, que divergem, mas permanecem independentes. Com isso acontece algo parecido com uma “psicoterapia teórica”, no pesquisador, que se torna ciente de suas influências e interesses pessoais.

EXERCÍCIO- COMPLEXIDADE
Qual o conceito de complexidade?
Derivada do latim Complexus que significa aquilo que é “tecido” junto, a palavra complexidade nos remete a uma noção de fenômenos constituídos de uma desordem ordenadamente organizada. Esta organização possui um núcleo que mantém o fenômeno/sistema/arranjo/organismo unido as diversas partes singulares que a compõe, e onde a separação das partes não remete necessariamente a um componente mais simples. O desmembramento do complexo pode conduzir a um elemento “espelhado” do todo (Holograma, imagem fractal[8]). O complexo, em Morin (1996; 1998[9]), é um turbilhão de forças que interagem e por vezes se opõem para formar uma unidade procriadora. A complexidade por sua vez, é a ciência filosófica que busca capturar este objeto obscuro e multifacetado, que é o conhecimento do real.


Por que a complexidade?
Para Morin (1998[10]), “atingir a complexidade significa atingir a binocularidade mental e abandonar o pensamento caolho”. A complexidade nos permite elaborar uma representação do real a partir de várias perspectivas, que nos conduz a um enriquecimento perceptivo. A complexidade possui forte relação com a filosofia que observa o mundo com um todo que contém partes que interagem e se movimentam em uma regra desregrada.
Neste contexto a complexidade integra o observador ao objeto de pesquisa, o que nos possibilita compreender o mundo através de lentes conscientes e multidisciplinares, proporcionando uma visão mais ampla do conhecimento racionalizado da realidade.
Quais as abordagens possíveis para tratar a complexidade?
Conforme Leite (2004. p 76[11]), diversas podem ser as abordagens que podem ser tratadas pelas ciências da complexidade, dentre as quais se destaca:
·         Abordagem de complexidade organizada que possui características de não-linearidade, média quantidade de componentes significativos; Relacionamentos e conectividade (interpretação de Weaver (1948));
·         Abordagem com grande número de componentes, que possui características não-linearidade, relacionamentos e conectividade. (interpretação de Weinberg (1975));
·         Abordagem onde há surgimento de propriedades emergentes, com características de conexões dos componentes do sistema em proporções muito grandes em relação ao número de partes (interpretação de Kauffman (1993));
·         Abordagem de sistemas que produzem esquemas mutantes, onde não há captação de informação com regularidade. Há um comportamento nucelar do sistema, que norteia, onde há aprendizado e evolução (interpretação de Gell-Mann (1996)).


[1] CALDAS, M.P.; BERTERO, C.O. (Ed.). Teoria das Organizações. São Paulo: Atlas, 2007. 360p. Acessado em 23/04/2011 no sítio: < http://66.228.120.252/resenhasdelivros/2151808> .
[2] Idem ao supracitado.
[3] LEWIS, M. W.; GRIMES, A.J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas. RAE, vol. 45, n.1. 2005.
[4] Idem ao supracitado.
[5] Lewis e Grimes (Referência 3) interpretando Morgan (1983, p. 382).
[6] MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[7] Idem a referência 3.
[8] Objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais se assemelha ao objeto original.
[9] MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins: Europa-America, [1996?]. 134p. & MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[10] MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 2. ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
[11] LEITE, Maria Silene Alexandre. Proposta de uma modelagem de referência para representar sistemas complexos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2004. Orientador Antonio Cezar. Bornia. – Florianópolis, 2004.




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